quarta-feira, 3 de abril de 2013

Viva aos empregados domésticos, viva!


Emociono-me cada vez que acompanho direitos sendo conquistados por categorias profissionais, pois sei que representa o fim de uma luta, de um “pedido de socorro” por algo que se reconhecia como direito e não se tinha. Conhecendo-se a historicidade da sociedade brasileira, gritada aos berros pelos nossos  célebres estudiosos, dentre historiadores e antropólogos e cientistas políticos, e indo a fundo na nossa própria história negada, renegada aos fétidos bastidores da vida, percebemos o quão difícil, demorada e muitas vezes dolorosa  é a conquista de um direito  em nosso país.  Se pararmos por um instante e analisarmos quantas pessoas tiveram suas vidas ceifadas por  situações de trabalho e vida desumanos e degradantes, valorizamos ainda mais os direitos tão arduamente conquistados por estes profissionais. Curioso,quando ouço algum discurso de alguém se queixando da política e negando-se a dar seu voto em um pleito, tento imaginar se esta desconhece toda a luta construída pelos nossos antepassados, às vezes nem tão distantes assim, pelo simples direito de ter um direito, como o direito de escolha quando conquistamos o direito de voto direto e secreto pintando as caras e indo pras ruas, por exemplo. Este e outros  questionamentos  dificilmente passam desapercebidos pelos leitores mais sensíveis.

A EC nº 72/2013 traz uma inovação ao Direito do Trabalho Brasileiro ao igualar os tão dedicados e imprescindíveis trabalhadores, os empregados domésticos, aos trabalhadores urbanos e rurais, dotando-lhes dos mesmos direitos e obrigações já conquistados por estes. Finalmente, o legislador ordinário reconheceu ainda mais a importância destes trabalhadores em nossas vidas e enquanto detentores de direitos!
A poucos dias, estava  em uma clínica médica quando escutei um senhora dizer para outra  assim: “ Hoje em dia é muito difícil encontrar uma menina pra trabalhar nas nossas casas, antigamente, a gente dava só o que comer e uma roupinha aqui, uma besteirinha acolá que pra elas já estava bom demais, agora...”. Confesso que fui tomada por uma raiva repentina e de uma vontade súbita de desferir umas boas lições de moral àquela senhora. Certamente, situaria aquele ser humano dos direitos já adquiridos pelos empregados domésticos, a chamaria de criminosa também, mas percebi que meu esforço seria inútil, afinal de contas, aquele discurso não pertence só àquela senhora. Quantas pessoas não devem estar pensando, após a publicação da EC,em despedir suas “empregadas” por não "poderem" atender às exigências legais, como já faziam a um bom tempo?Quantas devem estar achando injusto o que o legislador fez ao aprovar uma lei que traz tantos privilégios a quem “precisa de tão pouco para viver”? Infelizmente, esta é a cara e o discurso de boa parte das pessoas que precisam dos serviços destes trabalhadores e que só conseguem enxergar os ônus que terão em decorrência de uma determinação legal a todos imposta. Lamento por eles e aposto que não conseguirão ficar sozinhos por muito tempo.

Enfim, espero que com a aquisição de novos direitos, equiparando os empregados domésticos, em tudo, aos trabalhadores urbanos e rurais, apareçam mais pessoas interessadas em cuidar das nossas casas e das nossas vidas todos os dias, como só as mães fazem, porém com a grande diferença que a partir de agora terão que cuidar "da gente" por no máximo 8 h diárias, com hora extra se ultrapassar este tempo,  13º salário, seguro desemprego quando não der causa à demissão, FGTS, descanso semanal remunerado e as tão sonhadas  e merecidas FÉRIAS!

Viva aos empregados domésticos, Viva!
 
Geovana Azevedo

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