sexta-feira, 26 de abril de 2013

A bicicleta dos sonhos


Tudo o que mais queria na vida era ganhar uma bicicleta. Não me importava de que marca seria, se bem que a Caloi Cecizinha me enchia os olhos. Só fazia questão mesmo que fosse grande. Ficava olhando aquelas pessoas passando na rua, montadas nas suas imponentes bicicletas, e chegava a fechar os olhos tentando me imaginar no lugar delas. Como deveria ser bom descer a rua pedalando rapidamente e sentindo o vento frio tocando meu rosto e desalinhando os meus cabelos. Como me sentiria também imponente e importante se isso fosse possível!

Aquelas bicicletas pequenas, com rodinhas pequenininhas atrás, nunca me atraíram, pois eram um indicativo fácil, aos olhos de todos, de que eu não sabia “andar de bicicleta”, termo impróprio para designar o ato, mas comumente utilizado na época.

Fazia de tudo para não desagradar meus pais, realizando, prontamente, todas as tarefinhas da escola e as domésticas que cabiam a mim, como uma forma de ser merecedora da minha sonhada magrela, que tanto pedia ao meu pai. Em todas as datas comemorativas, aguardava ansiosa para ver um embrulho de presente bem grande diante dos meus olhos, mas, a cada data, o desejo foi sendo substituído pela frustração e depois pela compreensão, pois meu pai não tinha condições de comprar três bicicletas ao mesmo tempo, na qualidade de pai de três filhos ciumentos. Desta forma, nossos presentes eram sempre coisas simples e necessárias, como roupas ou até mesmo brinquedos, que dava pra comprar para os três filhos sem ter que vender algo depois para pagar.

Em um belo dia, quando já não mais esperava ganhar minha magrela, meu pai chegou com três bicicletas chinesas na minha casa. Sim, chinesas! Eu sabia que a China era longe, do outro lado do mundo e por isso cheguei a pensar que meu papai tinha super-poderes, pois tinha saído pra trabalhar de manhã e de lá deu um pulinho lá na China, ou, quem sabe, se tele-transportou para comprá-las, e depois do almoço já estava em casa com elas, fato desmentido depois por ele. Lembro-me bem daquele dia, quando papai abriu aquelas caixas de papelão, pois tive a melhor sensação da vida, ao perceber, que juntando todas aquelas peças soltas, resultaria na minha tão sonhada bicicletinha.

Quando ganhou forma, percebi que o design era completamente diferente das tradicionais, que já tinha visto passar na minha rua, e depois que montei para fazer um teste- drive, vi que era um negócio da China mesmo: tinha uma cor “preta-rocheada” com brilhos discretos, o banco era confortável como um travesseiro, a cestinha da frente era bem larga e cabia o meu cachorro de porte médio dentro - testei- as rodas eram finas e de borracha resistentes, embora aparentasse que não aguentariam a primeira descida no calçamento, tinha também protetores embutidos na corrente, para evitar acidentes, e uma campainha de som diferente, que eu dizia para meus amigos que era a bike falando “são do mêi”, expressão tipicamente piauiense, em chinês. Porém, todas estas características eram irrelevantes para mim, com a exceção de ser grande, critério que papai cumpriu a risca. Só isso importava.

Passada a emoção de receber o presente dos sonhos, chegou o momento de pô-lo na rua e mostrar ao mundo que nasci para pedalar, assim como o Robinho. Mas, o feitiço caiu sobre a feiticeira, e a danada da bicicleta chamou mais atenção do que a pequena ciclista que a conduzia. Ninguém queria saber se uma criança conduzia bem uma bicicleta grande, como pensei erroneamente, todos queriam admirar a “beleza da chinesa”, que, per si, apagava minha tentativa inicial de ser importante e imponente sobre duas rodas. Por tudo isso, era bem difícil pedalá-la, pois as pessoas me paravam na rua, admiradas, para perguntar aonde meus pais haviam comprado, e eu, sagaz desde sempre, dizia que tinha sido na China, mesmo sabendo que não, causando aquele impacto nos curiosos, que me deixavam em paz em seguida. Outras pessoas, as mais caras-de-pau, além de me pararem na rua, pediam para dar uma voltinha pra “ver como era” e eu, dependendo da cara do pedinte, concedia ou não, e quando negava, dizia “É a mesma coisa das outras!”. Cheguei até a pensar em cobrar pelas voltinhas, pois tinha clientela suficiente para isso, mas a consciência não me deixou dar prosseguimento ao meu infalível plano empreendedor.

Depois de algum tempo, a bike dos sonhos se tornou desinteressante e foi deixada de lado, no meio da poeira de um depósito velho. Foi guando surgiram os patins e o novo sonho de possuí-los.

4 comentários:

  1. Querida amiga sua emoção foi tão grande quanto a minha quando guanhei uma bicicleta grande uma monark M. bike de 18 marchas com cãmbio shimano que era o sucesso do momento ganhei exatamente no dia 22 de novembro de 1997 depois de tantos anos andando na minha saudosa BMX Superstar que chamava carinhosamente de supestana,lembro-me como se fosse hoje quando meu pai mandou 100 reais pra mim que na epóca era uma grana e tanto e eu e vovó fomos a loja veloso eletromóveis em Floriano e vovó deu os 100 reais de entrada e parcelou os outros 45 reais em três parelas de 15 reais imediatamente levei a M.Bike azul para meu amigo Zé das bicicletas proceder com a montagem fui para a escola todo feliz e quando voltei recebi a maquina batizei ela de scania 113 azul por que na epoca meu tio pilotava um scania 113 azul, nos primeiros dias andei tanto de bicicleta que três dias após a compra meu apendice supurou e tive que ser operado as presas passei dois meses sem poder andar de bicicleta mais antes disso um dia minha vó saiu de casa para ir ao centro e me deixou sozinho e eu fechei todas as portas e janelas da casa por que as duas vizinhas eram cabuetas e andei na bicicleta e ainda comi doce de jaca algo extremamente reimoso para quem estava operado não deu outra tive que voltar para o hospital por que cirurgia abriu!!!!kkkkkkkk

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  2. A primeira bicicleta "grande" era um momento marcante na vida das pessoas nas décadas passadas!! o tempo voa!! e as coisas mudam!!

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