Ontem tive uma mudança de planos
abrupta, ao invés de curar minhas "dores" no samba, como havia dito em um post anterior, procurei algo que
pudesse me tocar a alma de verdade e preencher um vazio meu ácido que estava no peito. Peregrinei um pouco a procura deste lugar,
na companhia de uma grande amiga, e felizmente o encontrei: num baião! Que sorte a
minha encontrar um lugar em que estava tendo uma apresentação de músicos todos
devidamente caracterizados com chapéus, chinelos e roupas de couro e cantando,
com primazia, as poesias no nosso ilustre Luiz Gonzaga.
É impressionante a força que as
coisas têm quando precisam acontecer, alguém já disse isso, e devo concordar.
Afinal, ontem em especial, as músicas de Luiz Gongaza foram escolhidas a dedo
para alguém que, assim como eu, estava "pra lá de Marraqueche". A cada
música iniciada, meu coração palpitada no mesmo compasso da sanfona e da
zabumba. Cantava as músicas, tamborilando os dedos na mesa de bambu e relembrei
minha infância, quando ia pra casa do
meu avô,vaqueiro por profissão, e o via colocar seu inseparável chapéu de couro
e o disco do Luiz Gonzaga na vitrola. Vovô não era um exímio dançarino, mas
passava horas rodopiando pela sala cantando aquelas belas canções, meio de
improviso, e virando o disco inúmeras vezes, quando um lado acabava. Às vezes, puxava-me
para dançar com ele e eu, toda desajeitada e pequenininha, caia na gargalhada
com aquela situação. Era muito divertido aquilo. Lembrei também das animadas
festas juninas, que minha mãe fazia questão que eu participasse quando menina.
É impossível não fazer a correlação com estas coisas.
Lá pelas tantas, quando já
estava totalmente inebriada com minhas lembranças ao som daquelas canções, a
banda toca, o que considero o Hino da Saudade: ‘Que nem Jiló’. A música tem uma
melodia gostosa, que faz o corpo bailar mesmo quando estamos sentados e uma
letra simples, profunda e alegre, como todas as outras:
“Ai quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer e amarga que nem jiló.”
Luiz sabia o que dizia. Quem
inventou a saudade não sabe o mal que fez, porém tenho que reconhecer que a danada, embora amarga que nem jiló, é o mais nobre dos sentimentos,
pois só se sente falta daquilo que se ama verdadeiramente: pessoas e situações diversas. A saudade é algo que
desafia as ciências exatas, pois não é passível de mensuração: quando estamos
distantes do que nos faz falta, sentimos um vazio no peito quase palpável, mas indecifrável,
quando reencontramos o objeto da saudade, ela não se vai, fica simplesmente
adormecida, como uma fiel companheira para as horas precisas. Saudade é então um
castigo? Não, saudade é o maior desejo para quem nunca amou de verdade, pois só
quem o fez pode senti-la, daí sua nobreza.
“Saudade, o meu remédio é cantar.”
Geovana Azevedo
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