sábado, 6 de abril de 2013

Amarga que nem jiló

Ontem tive uma mudança de planos abrupta, ao invés de curar minhas "dores" no samba, como havia dito em um post anterior, procurei algo que pudesse me tocar a alma de verdade e preencher um vazio meu ácido que estava no peito. Peregrinei um pouco a procura deste lugar, na companhia de uma grande amiga, e felizmente o encontrei: num baião! Que sorte a minha encontrar um lugar em que estava tendo uma apresentação de músicos todos devidamente caracterizados com chapéus, chinelos e roupas de couro e cantando, com primazia, as poesias no nosso ilustre Luiz Gonzaga.
É impressionante a força que as coisas têm quando precisam acontecer, alguém já disse isso, e devo concordar. Afinal, ontem em especial, as músicas de Luiz Gongaza foram escolhidas a dedo para alguém que, assim como eu, estava "pra lá de Marraqueche". A cada música iniciada, meu coração palpitada no mesmo compasso da sanfona e da zabumba. Cantava as músicas, tamborilando os dedos na mesa de bambu e relembrei  minha infância, quando ia pra casa do meu avô,vaqueiro por profissão, e o via colocar seu inseparável chapéu de couro e o disco do Luiz Gonzaga na vitrola. Vovô não era um exímio dançarino, mas passava horas rodopiando pela sala cantando aquelas belas canções, meio de improviso, e virando o disco inúmeras vezes, quando um lado acabava. Às vezes, puxava-me para dançar com ele e eu, toda desajeitada e pequenininha, caia na gargalhada com aquela situação. Era muito divertido aquilo. Lembrei também das animadas festas juninas, que minha mãe fazia questão que eu participasse quando menina. É impossível não fazer a correlação com estas coisas.
Lá pelas tantas, quando já estava totalmente inebriada com minhas lembranças ao som daquelas canções, a banda toca, o que considero o Hino da Saudade: ‘Que nem Jiló’. A música tem uma melodia gostosa, que faz o corpo bailar mesmo quando estamos sentados e uma letra simples, profunda e alegre, como todas as outras:
 
“Ai quem me dera voltar
Pros braços do meu xodó
Saudade assim faz roer e amarga que nem jiló.”
 
Luiz sabia o que dizia. Quem inventou a saudade não sabe o mal que fez, porém tenho que reconhecer que a danada, embora amarga que nem jiló, é o mais nobre dos sentimentos, pois só se sente falta daquilo que se ama verdadeiramente: pessoas e situações diversas. A saudade é algo que desafia as ciências exatas, pois não é passível de mensuração: quando estamos distantes do que nos faz falta, sentimos um vazio no peito quase palpável, mas indecifrável, quando reencontramos o objeto da saudade, ela não se vai, fica simplesmente adormecida, como uma fiel companheira para as horas precisas. Saudade é então um castigo? Não, saudade é o maior desejo para quem nunca amou de verdade, pois só quem o fez pode senti-la, daí sua nobreza.
 
“Saudade, o meu remédio é cantar.”
 
Geovana Azevedo

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