terça-feira, 10 de abril de 2012

Noite fora do script

Ontem fui à aula de ônibus, até que cheguei a tempo, mas depois, às 22:35 h, "descobri" que não tinha como voltar pra casa - esqueci meu celular em casa, ao mudar de bolsa, e não encontrei nenhum orelhão por perto - o jeito foi me aventurar e ir a parada de ônibus mais próxima, arriscando a sorte.
Esperei uns 20 min, com outras poucas pessoas, até que passou um ônibus para o meu destino. Porém, o mesmo ainda faria um trajeto via centro para então ir para os bairros.Olhava, incansavelmente, para o relógio, como uma tentativa de ver o tempo passando mais rápido e poder chegar em casa o quanto antes.O motorista ligou o som na rádio local, parecia mal sintonizada, pois era alto e estridente, deveria ser uma forma de afugentar o sono e manter-se concentrado enquanto dirigia. O cobrador era um sujeito de cabelos grisalhos e ar abatido, equilibrava-se sobre sua cadeira, com os olhos fechados, segurando com uma das mãos a haste sobre sua mesa de guardar dinheiro. O som foi incapaz de despertá-lo. Os rostos dos passageiros sinalizavam todo o cansaço de um dia.
Passando pelo centro da cidade,vi coisas que meus olhos ainda não tinham visto a olho nu: um casal dormindo abraçado, sobre um papelão, no Mercado Central; um homem sentado com o olhar perdido no Rio Parnaíba, como se tentasse afogar suas dores,  um vendedor de pipocas amarrando seu carrinho, com muito cuidado, e indo para casa esperar um novo amanhecer. Quando o ônibus parou num sinal, em frente a uma loja de veículos, meus olhos também viram o carro dos meus sonhos. Enquanto o sinal mudava de cor, imaginei-me dentro dele, a 100 km/h, com os vidros abertos, deixando o vento tocar meu rosto e bagunçar meus cabelos, enquanto ouvia, em volume máximo, Losing my Religion do R.E.M.
Cheguei em casa 23:30 h, exausta e com muito sono, pensei em tudo isso que me ocorreu, nesta noite fora do script, e dormi com um sorriso no canto da boca.

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