sábado, 2 de novembro de 2013

Um grão de mostarda em meio a tantos catchups




Há dias penso em escrever sobre mostarda, a qual nutro uma grande paixão, mas não há muito o que se falar, além da paixão, acho. Embora de origem nobre, francesa/alemã, é apreciada por poucos e sempre esquecida a favor dos “americanizados”, mas a mesma resiste bravamente desde a Grécia antiga, onde já se fazia experiências com suas sementes em carnes, para temperá-las. É engraçado como esboçar preferência por “isso” em detrimento “daquilo” sempre causa desconforto e espanto nas pessoas, que naturalmente tem gostos opostos: - Nossa, você gosta de mostarda? Penso que não é simplesmente querer ser diferente e fazer disso uma bandeira ou um bloco organizado- " mostarda block"- mas ter a convicção de que as preferências pessoais surgem da própria formação do ser enquanto sujeito ativo e inserido em uma atmosfera de experiências diversas. Permitir-se a certas experiências que a vida nos proporciona faz com que enxerguemos onde está nosso gostar e o que nos dá ânimo para viver prazerosamente.Pra isso, é importante não se deixar levar pelo “todo mundo”, mas, sim reconhecer-se como um alguém que tem gostos e preferências inegociáveis e atemporais, embora os ditames contemporâneos o digam o contrário.
Gosto de máquina de datilografar, de pés no chão depois de um dia de trabalho, do barulho das folhas secas ao serem pisadas, das cores do céu ao amanhecer e dos desenhos que as nuvens fazem. Gosto do barulho que o vento faz ao tocar as roupas leves estendidas no varal e do cheiro de chuva que exala da terra, quando tento rabiscar algo na areia molhada, com um pequeno e frágil galho que se deixou cair. Gosto de bolo que não deu certo,  de cheiro de pão e de pipoca com manteiga. Gosto de olhos, de sorrisos tímidos e boca emudecida. Gosto de poesia de improviso, de piada sem riso, de vitrola no botequim. Gosto de gente simples, de frescura no ponto e de violetas e girassóis no jardim. Gosto de vento no rosto, de conselhos tortos, de kiwi e de sorvete de amendoim. Gosto de dormir de rede, de maça verde e do som do bandolim. Gosto do cheiro do café, de cafuné no pé e de beijos molhados. Gosto de palavras soltas... de ‘até logo’...de "para sempre".

É, pensando bem, talvez meus gostos destoem do pragmatismo estabelecido, aceito. Isso deve fazer de mim um ser atípico, ou quem sabe “um grão de mostarda em meio a tantos catchups”. Ótimo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário