domingo, 17 de novembro de 2013

O mar




Não era uma tarde qualquer. O céu tinha uma cor marfim; o vento passava, com pressa, por entre meus cabelos soltos, desalinhando-os, enquanto anunciava algo, sussurrado, em meus ouvidos. Choveria. Algumas aves, que se perderam de seu bando, percebendo o que os céus prenunciavam, passavam baixinho e apressadamente, com o desejo evidente de protegerem-se em seus ninhos. Sentei-me ali, na areia fria e molhada do vai-e-vem das ondas, e pus-me a contemplar as águas calmas de um mar cansado depois de um dia de trabalho. Dizem que o mar tem o estranho poder de curar dores, e talvez tenha, pois em olhá-lo, buscando compreender sua imensidão e significados ocultos, esquecemos, por um momento, o que nos tira a paz. Fiquei assim, nem sei dizer por quanto tempo, alheia a qualquer outro acontecimento ao meu redor, a não ser a movimentação tímida de algumas ondas, que tentavam em vão tocar meus pés descalços, como uma criança astuta que tenta chamar atenção. Olhei para o céu e vi que as nuvens estavam tão próximas a mim, que tive a sensação de poder tocá-las, como sempre desejei quando criança. Sim, choverei, como aquele vento e agora as nuvens me diziam. Choveu. A água dos céus caíram nos braços abertos das águas do mar, num balé ensaiado pela natureza, já retratado por  artistas que desejavam imortalizar esta obra divina. Senti que aquela apresentação foi preparada exclusivamente para mim e emocionei-me ao compreender que os céus e o mar resolveram me ninar. Quando voltei a mim e olhei ao meu redor, vi que estava completamente sozinha naquela areia, mas o frio,a roupa molhada e a solidão não me fizeram desistir da minha busca naquela tarde.  Mas, afinal, o que procurava ali e o que o mar poderia me dizer? Não sei bem, talvez nunca saiba. Talvez buscasse uma resposta para uma pergunta que não foi feita, talvez um significado, talvez um acalento ou um afago. O mar sabe, ele sempre sabe...

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