Não
era uma tarde qualquer. O céu tinha uma cor marfim; o vento passava, com pressa,
por entre meus cabelos soltos, desalinhando-os, enquanto anunciava algo, sussurrado, em meus
ouvidos. Choveria. Algumas aves, que se perderam de seu bando, percebendo o que
os céus prenunciavam, passavam baixinho e apressadamente, com o desejo evidente
de protegerem-se em seus ninhos. Sentei-me ali, na areia fria e molhada do
vai-e-vem das ondas, e pus-me a contemplar as águas calmas de um mar
cansado depois de um dia de trabalho. Dizem que o mar tem o estranho poder de
curar dores, e talvez tenha, pois em olhá-lo, buscando compreender sua
imensidão e significados ocultos, esquecemos, por um momento, o que nos tira a
paz. Fiquei assim, nem sei dizer por quanto tempo, alheia a qualquer outro
acontecimento ao meu redor, a não ser a movimentação tímida de algumas ondas,
que tentavam em vão tocar meus pés descalços, como uma criança astuta que tenta
chamar atenção. Olhei para o céu e vi que as nuvens estavam tão próximas a mim,
que tive a sensação de poder tocá-las, como sempre desejei quando criança. Sim,
choverei, como aquele vento e agora as nuvens me diziam. Choveu. A água dos
céus caíram nos braços abertos das águas do mar, num balé ensaiado pela
natureza, já retratado por artistas que
desejavam imortalizar esta obra divina. Senti que aquela apresentação foi
preparada exclusivamente para mim e emocionei-me ao compreender que os céus e o
mar resolveram me ninar. Quando voltei a mim e olhei ao meu
redor, vi que estava completamente sozinha naquela areia, mas o frio,a roupa
molhada e a solidão não me fizeram desistir da minha busca naquela tarde. Mas, afinal, o que procurava ali e o que o mar poderia me dizer? Não sei bem, talvez nunca saiba. Talvez buscasse uma resposta para uma pergunta
que não foi feita, talvez um significado, talvez um acalento ou um afago. O mar sabe, ele sempre sabe...
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