quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O teresinense é antes de tudo...

Uma criança sapeca.Nasci numa bela tarde de julho, no Hospital do BEC. Às vezes, acho que isso me deixa menos teresinense que muitos teresinenses. Afinal, não nascer na Evangelina Rosa, é para muitos teresinenses, um motivo de espasmo. Fico até com uma invejinha de quem nasceu lá, mas me contento em ser federal. Tudo bem, mesmo ‘desatinando o coro dos contentes’, cresci nessa cidade como uma boa teresinense: brinquei na rua até o anoitecer, roubei  frutas no quintal do vizinho e as saboreei com sal e pimenta-do-reino, moída no pilão, aprendi  a andar de bicicleta e soltar as mãos do 'guidão' e tenho cicatrizes que as clínicas de estética das compras coletivas são incapazes de tirá-las com um único voucher. Além de tudo isso, aprendi cedo a descascar laranja ‘ferindo’, com uma faca, quando estava com preguiça, e deixando a casca inteira, quando com coragem, a levantar os pés quando minha mãe varria a casa, pra assegurar que um dia me casaria, a me calçar e cobrir os espelhos da casa com uma toalha ou lençol,  quando chovia e relampejava, a comer  pão com simba na hora do lanche e a brincar de ‘bem-me-quer ‘e ‘mal-me-quer’, despetalando uma rosa do jardim, para saber se seria correspondida no amor.
Logo cresci e percebi que “o teresinense é antes de tudo um FORTE”. Afinal, suportar as intempéries climáticas e às anedotas a que somos submetidos, constantemente, não é pra qualquer terráqueo, tem que ser "caba da peste" e ter um bom reservatório de paciência e resignação. Suportamos com muita determinação e muito protetor solar, de vários fatores, o nosso sol equatoriano, por isso temos olhos escuros, “negros como as asas da graúna” e pele bronzeada ou queimada do sol. Sofremos com os meses que antecedem o fim do ano, apelidados docemente de ‘Br-ó-bró’ ou período de calor insuportável. Aos visitantes, aconselhamos que não apareçam por aqui neste período, a não ser que queiram ter a leve sensação de estarem visitando o próprio inferno de Dante. Nós, curiosamente, suportamos o insuportável e ainda enchemos a boca para dizer, vejam só: prefiro o calor ao frio!
Nós teresinenses somos , antes de tudo, um povo forte...Somos sim, pois somos alvo de chacotas, pela nossa distância da ‘civilização’, pelo nosso destaque intelectual-nacional frente a tantas adversidades (como pode?), por sermos esquecidos em um mapa geográfico, e, pasmem, alguns artistas que passearam por aqui já até nos associaram  a um réles aparelho excretor.Pensando bem, ser um aparelho excretor não é de tanto ruim, pois assim adubamos a vida de muita gente, fazendo-as crescer de maneira forte e inquebrantável, como os nossos profissionais, que exportamos pelo mundo a fora.

Refletindo sobre o que foi e o que se tornou Minha Teresina, percebo que avançamos muito estruturalmente: a cidade está mais linda, mais verde, cheia de paisagens novas para estampar os nossos cartões-postais. Temos problemas governamentais e estruturais, de uma forma geral, como qualquer Estado da Federação, temos crimes acontecendo diariamente e estampando os documentários locais, como qualquer Estado da Federação, mas, apesar de não podermos mais nos sentar na porta de casa, na calçada, na velha cadeira de espaguete, no final da tarde, aqui continua sendo o melhor lugar pra se viver, na minha humilde opinião, pois aqui temos o melhor e mais acolhedor povo do mundo. Povo do tipo que cede o próprio quarto para as visitas e vai dormir no pior lugar da casa, só pra agradar.

Minha doce Teresina, tão doce quanto a nossa melhor cajuína, tenho certeza que por onde quer que eu vá, o que quer que eu faça, jamais esquecerei de ti que  me deixa toda boba e meio como louca de encantamento, como diz a canção. E é por isso que digo, quando escuto algum pouco informado, denegrindo a minha cidade maravilhosa(essa sim merecia esse título): Minha Teresina? não troco jamais!

Geovana Azevedo

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