quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Minhas memórias tristes


            Gosto de criar, no imaginário, todos os personagens e suas respectivas falas e entonações de voz. Divirto-me pintando, com uma perspicácia 'Da Vinciana', as feições e traços de cada um, em particular. Dou vida às histórias que leio, com o imprescindível auxílio das descrições dos meus autores prediletos. A leitura me faz perceber que posso ser mais que uma simples mortal inserida em um mundo efêmero e ao mesmo tempo dinâmico. Adquiro poderes extraordinários que permitem teletransportar-me para lugares até então inabitábeis e desconhecidos e a vivenciar situações  excitantes e inusitadas, para uma réles mortal. Parafraseando Bukowski, digo: as leituras que faço e  elucubrações resultantes, me salvam da mais completa loucura. Sim, a leitura é uma forma confortável de me sentir menos só, por isso as faço com uma paixão avassaladora.

             Sou uma sujeita anacrônica e entendo isso como sendo: sei que vivo em uma era High-Tech e que tenho que viver de acordo com o homem do meu tempo, mas desprezo tudo isso quando escrevo a mão e depois digito. Sou cafona (e daí?), estou aquém do tempo, ou simplesmente fiquei no passado, ouço e leio coisas antiquadas, e não me envergonho disso. Porém, confesso com os dedos indicadores entrelaçados, como de uma jovem donzela que declara seu amor a alguém, que a leitura dos grandes clássicos da literatura universal me dilatam as pupilas de entusiamo, mais que qualquer página colorida de uma rede mundial. Afinal, nada mais prazeroso que contemplar as dores e os amores que não são meus, mas que muitas vezes os são, pois, quando me convém, tomo-os para mim. 

            Sempre nutri um amor pela literatura, mas por longo tempo tive que me ater a livros técnicos, na verdade, verdadeiros manuais profissionais, que não por isso são menos essenciais. Agora, posso voltar a ter o prazer da leitura descompromissada, a não ser comigo mesma, embora não deixe a literatura técnico de lado. O prazer de escolher algo que me instigue, que me desafie a compreensão, por mais  atemporal que possa ser ou parecer, significa muito para mim.

            Os romances têm esse fascínio de me desafiar, de me chamar para a leitura. Talvez por isso eu tenha uma verdadeira inclinação por eles, o que pode ser justificado pela ânsia de um dia poder vivê-los. Os livros de ficção já não me atraem com a mesma voracidade, pois me priva do ímpeto criativo de elaborar os personagens ao meu bel prazer, como fazem os romancistas, dando brechas para que os leitores divaguem.'Leituras de meninos' também me atraem muito, afinal, a literatura marginal, como é conhecida a corrente “não literária”, ou não aceita pela Literatura por conta da linguagem mais descuidada, é repleta de experiências e falas relegadas aos bastidores da vida. É a 'história negada', tão interessante quanto a assumida: o ser humano é totalmente despido de seus pudores e não tapa, em nenhum momento, as suas vergonhas. Isso, para muitos, soa agressivo, para mim, nem tanto.

            Certa vez, estava num ônibus, voltando para casa e, para suportar o longo trajeto, lia Misto Quente de Charles Bukowiski.Um homem qualquer, sentou-se ao meu lado e desde então percebi seu esforço para ver o que eu lia. Cheguei a me divertir com suas tentativas vãs de decifrar o que tanto me atraia a atenção- pura curiosidade, que nem de longe é uma característica exclusivamente feminina.Quando, por fim, permiti que visse a capa, olhou-me assustado como se houvesse  descoberto uma foragida da justiça. Vi em seus olhos negros a censura explícita numa tarja, que piscava intermitente e ofuscante com os dizeres: meninas não leem isso!Como se não bastasse seu olhar reprovador, não se conteve e perguntou - Você ler isso? Lembro que desprezei o ser  que me julgava por ler o que queria e continuei a leitura de onde parei, no momento que ele me interrompeu. Ele bem que mereceu uma bela frase bukowiskiana do tipo: Não é que eu não goste das pessoas, mas prefiro que elas fiquem longe de mim!Dá licença, completaria!Mas o silêncio foi minha melhor resposta.

            O que quero contar mesmo, nesta outra crônica tupiniquim, como é dolorido me despedir dos personagens dos livros que colori na minha mente, com muito amor e lápis-de-cor das mais belas cores e combinações que existem. Hoje, em especial, quero falar dos personagens das “ Memórias de minhas putas tristes”, do escritor colombiano Gabriel García Marquez, livro que li por completo em um dia, tamanho meu entusiamo e envolvimento com a história. Depois da leitura é comum sentir um vazio na alma e as lágrimas teimam em cair pelo rosto como numa despedida fúnebre, dessa vez não foi diferente. O amor aos personagens, ao qual somos surpreendidos no desenrolar da história, pode até mesmo ser questionável pelos leitores menos seduzíveis, afinal, se apaixonar e chorar “ a morte” de personagens que se conheceu, de fato, em um dia, pode soar como inverdade. Mas, como pode ser inverdade a saudade que aperta o peito e me faz querer saber o que vai ser do destino de Rosa Cabarcas, de Damiana, de Ximena Ortiz, do meu 'Professor Desolado Outeiro' e seu grande amor pela menina, que atendia pelo pseudônimo de Delgadina, sem meu atento olhar? Realmente, não sei.

             Quero, apenas, e mais uma vez, lamentar que as histórias incríveis sejam finitas, embora o autor, sabiamente, dê um vão que permite complementação pelo criativo leitor. O término da leitura dessa obra, troxe, além da sensação de ter perdido um membro do corpo, a compreensão de que a vida e o amor devem ser valorizados sempre e em qualquer circunstância, inclusive no auge dos 90 anos de idade e tendo como ser idealizado uma jovem ao qual se fique embasbacado de amor pela primeira vez na vida.Outras conclusões foram feitas, mas prefiro guardá-la para mim.

            Então, o que me resta é contrariar o conselho dos mais sábios e enganados literários, que nos dizem 'que as coisas sejam infinitas enquanto durem'. As lembranças dos meus personagens, aos quais me aproprio possessivamente e que me apaixono e desapaixono no virar de uma página, não são efêmeras. Lembro de cada um deles em determinadas situações da minha vida e, às vezes, sinto uma vontade louca de citá-los numa roda de conversa de amigos. Muitas vezes faço isso, como se me referisse a um amigo de longas datas, o que me faz sentir próxima de cada um, mais uma vez. Minha sorte é que eles estão ali, presos no livros, imortalizados com seus nomes e prêmios conferidos aos autores que os criaram em tão perfeita harmonia.Só assim, quando a saudade me encher o peito, posso deitar em minha rede, onde o sol não bate, e folhear as páginas na ânsia de ressucitá-los em  minhas memórias tristes.

Geovana Azevedo

domingo, 21 de agosto de 2011

Rildoooo

Reupe-me!

Não consigo fazer comentários dos comentários dos visistantes e vivo permanentemente logada, mesmo clicando em sair. É algo sobrenatural, isso?
P.S: Rildo é o idealizador do Placa e o responsável por me socorrer nas horas mais difíceis, como a Paxx União.

Vai agosto!

Escrevi pouco neste mês, sei lá, talvez coisas legais não tenham acontecido para merecer um destaque especial no meu Placa. Só sei de uma coisa, quero que passe logo esse mês de agosto, que sou mulher mística e tenho medo de urucubaca de mês agorento.Saravá!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O teresinense é antes de tudo...

Uma criança sapeca.Nasci numa bela tarde de julho, no Hospital do BEC. Às vezes, acho que isso me deixa menos teresinense que muitos teresinenses. Afinal, não nascer na Evangelina Rosa, é para muitos teresinenses, um motivo de espasmo. Fico até com uma invejinha de quem nasceu lá, mas me contento em ser federal. Tudo bem, mesmo ‘desatinando o coro dos contentes’, cresci nessa cidade como uma boa teresinense: brinquei na rua até o anoitecer, roubei  frutas no quintal do vizinho e as saboreei com sal e pimenta-do-reino, moída no pilão, aprendi  a andar de bicicleta e soltar as mãos do 'guidão' e tenho cicatrizes que as clínicas de estética das compras coletivas são incapazes de tirá-las com um único voucher. Além de tudo isso, aprendi cedo a descascar laranja ‘ferindo’, com uma faca, quando estava com preguiça, e deixando a casca inteira, quando com coragem, a levantar os pés quando minha mãe varria a casa, pra assegurar que um dia me casaria, a me calçar e cobrir os espelhos da casa com uma toalha ou lençol,  quando chovia e relampejava, a comer  pão com simba na hora do lanche e a brincar de ‘bem-me-quer ‘e ‘mal-me-quer’, despetalando uma rosa do jardim, para saber se seria correspondida no amor.
Logo cresci e percebi que “o teresinense é antes de tudo um FORTE”. Afinal, suportar as intempéries climáticas e às anedotas a que somos submetidos, constantemente, não é pra qualquer terráqueo, tem que ser "caba da peste" e ter um bom reservatório de paciência e resignação. Suportamos com muita determinação e muito protetor solar, de vários fatores, o nosso sol equatoriano, por isso temos olhos escuros, “negros como as asas da graúna” e pele bronzeada ou queimada do sol. Sofremos com os meses que antecedem o fim do ano, apelidados docemente de ‘Br-ó-bró’ ou período de calor insuportável. Aos visitantes, aconselhamos que não apareçam por aqui neste período, a não ser que queiram ter a leve sensação de estarem visitando o próprio inferno de Dante. Nós, curiosamente, suportamos o insuportável e ainda enchemos a boca para dizer, vejam só: prefiro o calor ao frio!
Nós teresinenses somos , antes de tudo, um povo forte...Somos sim, pois somos alvo de chacotas, pela nossa distância da ‘civilização’, pelo nosso destaque intelectual-nacional frente a tantas adversidades (como pode?), por sermos esquecidos em um mapa geográfico, e, pasmem, alguns artistas que passearam por aqui já até nos associaram  a um réles aparelho excretor.Pensando bem, ser um aparelho excretor não é de tanto ruim, pois assim adubamos a vida de muita gente, fazendo-as crescer de maneira forte e inquebrantável, como os nossos profissionais, que exportamos pelo mundo a fora.

Refletindo sobre o que foi e o que se tornou Minha Teresina, percebo que avançamos muito estruturalmente: a cidade está mais linda, mais verde, cheia de paisagens novas para estampar os nossos cartões-postais. Temos problemas governamentais e estruturais, de uma forma geral, como qualquer Estado da Federação, temos crimes acontecendo diariamente e estampando os documentários locais, como qualquer Estado da Federação, mas, apesar de não podermos mais nos sentar na porta de casa, na calçada, na velha cadeira de espaguete, no final da tarde, aqui continua sendo o melhor lugar pra se viver, na minha humilde opinião, pois aqui temos o melhor e mais acolhedor povo do mundo. Povo do tipo que cede o próprio quarto para as visitas e vai dormir no pior lugar da casa, só pra agradar.

Minha doce Teresina, tão doce quanto a nossa melhor cajuína, tenho certeza que por onde quer que eu vá, o que quer que eu faça, jamais esquecerei de ti que  me deixa toda boba e meio como louca de encantamento, como diz a canção. E é por isso que digo, quando escuto algum pouco informado, denegrindo a minha cidade maravilhosa(essa sim merecia esse título): Minha Teresina? não troco jamais!

Geovana Azevedo